Comunidades Bentônicas Capixabas



A Associação Ambiental Voz da Natureza desenvolve através de mergulho autônomo levantamentos de estruturas e inventários de comunidades bentônicas em diversos ambientes recifais do Espírito Santo. O conhecimento das comunidades biológicas do infralitoral é importante para o entendimento das relações tróficas e das dinâmicas biológicas entre ambientes recifais. A sustentabilidade de recursos pesqueiros está diretamente ligada à saúde dos ambientes marinhos, principalmente os organismos bentônicos, considerados formadores basais do fundo. A conservação de importantes habitats marinhos capixabas está ligada diretamente ao seu conhecimento básico. A Voz tem como objetivo aumentar o conhecimento acerca destes ambientes, colaborando com informações para monitoramento de áreas prioritárias para conservação, manejo e criação de UC’s.

Pesquisas com invertebrados marinhos de infralitoral começaram em 2009 na região sul do Espírito Santo com o estudo: “Estrutura da comunidade bentônica da Ilha dos Franceses”, que contribuiu para o conhecimento dos bentos dos recifes rochosos da maior ilha costeira do estado, realizada com patrocínio parcial da Fundação O Boticário de Proteção a Natureza.

Em 2010 na pesquisa “Diagnóstico ambiental do litoral sul do estado do Espírito Santo: Estudos complementares para a criação de uma Unidade de Conservação Marinha” no qual foi realizado o “Mapeamento dos habitats marinhos da costa sul capixaba” onde ambientes recifais como recifes rochosos, fundos biogênicos, recifes biogênicos (cabeços), fundo biogênico com cobertura de algas e fundos inconsolidados foram caracterizados quanto a cobertura de grupos funcionais e espécies. Os tipos de fundos estudados foram diagnosticados através de mapas georreferenciados produzidos em oficinas participativas do conhecimento ecológico tradicional (CET), realizados com os pescadores do sul do ES, que foram cruzados com o imageamento do fundo marinho com a utilização do Sonar de Varredura Lateral. Este projeto contou com o patrocínio da Fundação O Boticário de Proteção a Natureza e a Fundação SOS Mata Atlântica.

Em 2009 e 2010 foi desenvolvido o Projeto Monitores Marinhos com o intuito de estabelecer monitoramento com mergulhos regulares, conhecendo e divulgando a realidade de nossos ambientes marinhos para a sociedade, além de fornecer subsídios aos gestores ambientais para o manejo de sistemas recifais e oportunidades de estudos científicos para estudantes e pesquisadores. Foram realizados inventários e descrição de estruturas de comunidades de recifes de Vitória e Vila Velha. As áreas de estudo compreendiam as Ilhas Galhetas, Ilha dos Pacotes e cabeços próximos. O projeto foi uma parceria com a operadora de mergulho FLAMAR.

Pesquisas relacionadas a levantamentos de comunidades marinhas continuam sendo realizadas. O estudo de bentos é necessário para diagnosticar o tipo de ambiente e suas relações tróficas. Atualmente um projeto intitulado “Proposta de Criação de Unidade de Conservação: Área de Proteção Ambiental das Ilhas Costeiras de Vitória” encontra-se em fase de viabilização de recursos. Este projeto apresenta uma proposta de criação da unidade de conservação, respaldados na grande importância das ilhas costeiras municipais para a manutenção das funcionalidades ambientais marinhas. Esta proposta conta com a parceria do Instituto Ecomaris e o laboratório de Ictiologia da Universidade Federal do Espírito Santo (ICTIOLAB- UFES).

Recentemente, um estudo denominado “Caracterização e diagnóstico das atividades turísticas e pesqueiras nas zonas marinhas da Área de Proteção Ambiental de Setiba (2011)”, realizado em parceria com a Aqua Ambiental e o Instituto Capixaba de Ecoturismo, levantou o conhecimento ecológico tradicional (CET) dos grupos de interesse (stakeholders) no litoral sul do Espírito Santo, com o objetivo de criar um Plano de Manejo adequado para a área. Contudo, os pesquisadores envolvidos sentiram a necessidade de um diagnóstico ambiental das áreas levantadas como de maior relevância, todas estas áreas mapeadas nas oficinas participativas do pretérito diagnóstico. O diagnóstico ambiental proposto neste projeto colaborará na determinação de áreas fechadas à pesca (No Take Zones) dentro da APA de Setiba, assim como numa proposta de ampliação da área da APA. Estas áreas numa abordagem atual seriam tratadas como zonas de produção destinadas ao equilíbrio e recuperação dos habitats com vistas à sustentabilidade da cadeia produtiva da pesca, garantindo a reprodução, recrutamento e o transbordamento dos recursos. Assim a proposta do projeto “Ampliação da Área de Proteção Ambiental de Setiba (ES) para a conservação de áreas de relevante interesse ecológico e sustentabilidade das atividades pesqueiras artesanais locais” visa um levantamento final para a determinação de um novo zoneamento da área marinha local, incluindo a seleção de áreas de proteção integral e avaliando a possibilidade de aumento dos limites da APA, baseado em diagnostico da estrutura das comunidades bentônicas e ictiofauna de diferentes habitats. Este projeto se encontra no momento em processo de viabilização de recursos, e conta com uma parceria com o Instituto Estadual de Meio Ambiente (IEMA).

Os estudos da comunidade bentônica sobre tudo em Vitória e Vila Velha têm respaldado a avaliação contraria aos Estudos de Impactos Ambientais (EIA) apresentados e aprovados pelo órgão estadual de meio ambiente (IEMA) para a realização de dragagens na Baia de Vitória. Estes estudos não levam em consideração a importância dos ambientes recifais onde são feitas as dragagens e os descartes do processo, ficando clara a falta de conhecimento que prevaleceu neste tipo de análise. Tentativas de diminuição dos impactos, alternativas para o descarte e até mesmo não licenciamento das atividades impactantes estão sendo feitos junto ao Ministério Público e CONDEMA, baseados nos estudos feitos nestas importantes comunidades onde são encontradas espécies raras e ameaçadas de extinção. 

Nas UC's marinhas localizadas em frente aos municípios de Serra, Fundão e Aracruz; está previsto o projeto “Levantamento da estrutura e composição da ictiofauna e da comunidade bentônica da APA Costa das Algas”. Esta pesquisa encontra-se em fase de capacitação de recursos. As coletas de dados realizadas em mergulho autônomo vão partir de escolhas de pontos amostrais de informações obtidas no projeto “Capacitação do conselho consultivo e elaboração do plano de ação inicial para as recém criadas Unidades de Conservação Marinhas APA Costa das Algas e RVS de Santa Cruz, ES” que esta sendo realizado através de uma parceria com o Departamento de Oceanografia e Ecologia da Universidade Federal do Espírito Santo (DOC/UFES) e o Instituto Chico Mendes de Conservação de Biodiversidade (ICMBio). Neste projeto já foram produzidos mapas mentais transcritos em informações SIG sobre tipos de fundo marinho, através de oficinas participativas de levantamento do Conhecimento Ecológico Tradicional (CET) com as comunidades pesqueiras das proximidades das UC’s. Estas informações serão cruzadas com o imageamento do fundo marinho com a utilização do Sonar de Varredura Lateral para a escolha dos pontos de mergulho em diferentes ambientes recifais.

Fotografias